Verdade
A inversão
de valores é tão grande que falar a verdade tornou-se a exceção à regra. Lembra-se...?
Verdade... é, aquela coisa descritiva que narra os eventos como eles são e não
como me convém contá-los?
Parece que
as relações humanas estão corrompidas de tal forma que dizer a verdade
tornou-se tão “in-crível” (leia-se ‘aquilo em que não se pode crer’) quanto
qualquer mentira ou, como se tem dito, quanto qualquer versão da própria verdade.
Experimentei
situações em que a verdade era tão simples e objetiva que para o outro era mais
fácil imaginar que eu estava mentindo e que outra versão qualquer deveria ser a
original. Depois de repetidas tentativas de demonstração da referida ‘verdade’
percebi que o problema não estava em mim ou naquilo que eu falava mas na
percepção do outro; em sua noção pré-concebida de que todos mentem, portanto
esta nova informação (deve ser ou) é uma mentira também.
Desenvolvemos
lenta e paulatinamente um "constructo" mental que justifica o ato de mentir.
Dizemos a nós mesmos que estamos nos protegendo preventivamente, ou que todos
fazem isso, portanto, podemos (e devemos) fazê-lo também. Alguns chamam isso de
profecia "autorrealizável": eu digo que todos mentem e por isso posso mentir,
logo, começo a mentir e daí cria-se uma cadeia inquebrável em que um se apoia
na presumida falha do outro.
Assistindo
esses shows televisivos sobre investigação policial aprendi que a investigação
de um assassinato se baseia em três coisas: que exista um corpo, encontrar a
arma do crime e identificar o motivo para o crime. Analogamente, a mentira
parte de um fato concreto (o corpo), o meio que se usa para criar a mentira (a
arma) e o interesse no contar a mentira (o motivo).
Entenda-se
por fato concreto o elemento sobre o qual se mente: ter feito ou não alguma
coisa, ter estado ou não em algum lugar, falado ou não com alguém, etc.
O meio
normalmente é a palavra, a narrativa, a história que se conta para dar vida à
fantasia criada.
O interesse
é o nascedouro, o ponto zero, o momento em que se decide não descrever o fato
como ele é.
Pergunto: Por
que precisamos nos defender tanto? Por que a presunção natural é a de que o
outro vai se aproveitar de uma situação de desvantagem e que, bem faço eu se
não me permitir ser ‘pego de calças curtas’ me cobrindo com a mentira?
Uma mentira,
invariavelmente, pede pelo menos mais uma ou duas para se sustentar. ‘Verdades’
criadas não ficam de pé sustentadas em apenas uma ‘perna’.
Qual a
solução? Coragem. Coragem para ser diferente no meio de tanta igualdade.
Coragem para fazer aquilo que se tem que fazer e para assumir o não ter feito,
quando isso ocorrer. Coragem para dizer “não” na hora certa ao invés de
justificar falsamente ter falhado no que foi proposto.
Coragem para
sair de uma relação que não é satisfatória antes de enganar, mentir e trair a
confiança alheia. Coragem para fazer negócios de forma honesta, lucrando o que
é justo. Coragem para não misturar as duas coisas e permanecer em uma relação
afetiva por outros interesses que não o carinho mútuo devido. Coragem para
dar-se legitimamente sem medo, com tesão paixão e amor! Coragem!!!